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domingo, 11 de dezembro de 2016

O COLETIVO DE UMA INSTÂNCIA








Há 31.530.000 segundos em um ano
e mil milissegundos em um segundo;
um milhão de microssegundos
e um bilhão de nanossegundos.

A única constante que nos trança,
ligando os nanossegundos aos anos,
é a iminência avante, a MUDANÇA.
O universo, em unísona ressonância,
do átomo à galáxia,
existe em perpétuo estado de fluxo,
no qual, todos nós, por ele flutuamos...

Mas nós, animais humanos,
não gostamos das mudanças.
Instintivamente nós tentamos
já justificar nossas lembranças.
O intelecto em que habitamos
procura preservar certezas,
verdades em que acreditamos.
Lutamos contra incertezas
Mas só porque nos assustamos.

Numa agridoce catárse
a mente tenta se silenciar.
E por isso é que em nós aflora
a ilusão de uma estase.
Nós só queremos acreditar
em um mundo de repouso
dentro desse universo do agora.
E o nosso grande paradoxo
permanece, e ainda nos devora:

No momento em que
alcançamos o presente,
esse mesmo momento
já não existe mais...
Incansável, sempre se revigora.

Nos atemos a memória,
agarrando-nos a imagem,
estaticamente, um singular
que não existe realmente.

Porque vida só é composta
por imagens em movimento.
Cada nanossegundo
é diferente do outro,
ininterrupta e eternamente,
move-se o mundo...
Descortina-se um sinal

O tempo nos obriga a crescer
e a nos adaptar, à todo instante,
aos diferentes novos espaços
que ocupamos na teia vital.
Onde quer que estejamos,
o que quer que façamos,
como quer que vivamos,
cada aqui é inédito e único:
independe o que acreditamos.
Nada, nem ninguém é igual...

Porque toda vez em que
piscamos os nossos olhos
o mundo se altera, é natural,
sem que sequer percebamos.

E, inerente à ignorância total
de que nós, inevitavelmente,
estamos sendo transformados
numa constante consonância
com essa fluidez de um todo,
mergulhados no infinito à volta,
a vida acontece, esplendorosa,
como o pólen quando se solta,
aquela emoção mais fervorosa.

Uma só onda. Um movimento.
Mas infinitas gotas aglutinadas
em uma única sopa oceânica
de experiências interconectadas,
e coordenadas pela mecânica,
reações sendo desencadeadas;
de asas de borboleta, o vento...

A luz é uma explosão que avança,
fagulha de uma erupção em dança.
O sol é a sua criação,
a música que conduz
essa íntegra conexão,
que não traduz qualquer distância.

Portanto
e,
por... Tanto!
Essa é minha reflexão:

Somos; coletivo de uma instância.

Todos e tudo têm sua importância

Todo dia, todo momento,
todos os nanossegundos,
o mundo, bem atento, muda.
Ventos que nos trazem ajuda...

Elétrons se esbarram por aí,
e reagem, links profundos.
As pessoas colidem entre si,
e se encaram, e se disparam, soltas,
alterando os rumos umas das outras.

Mudança não é fácil:
É alicerce em edifício
E muitas e muitas vezes
é desgastante e difícil
conhecer nossas sedes.

Mas, talvez, isso seja uma coisa boa.
Talvez alguém veja que nada é à toa.

Porque é a mudança
que nos torna mais fortes.
Cria-se perseverança
até que suturem os cortes.
Ela nos mantém bem resistentes
E nos ensina a evoluir
Nos empurra, à seguir
pelos caminhos mais resilientes…

Tudo está em em transformação,
e para que possamos nos sentir
precisamos sintonizar o coração,
e fazer planos, basta se permitir...

Não dá para deixar de pensar
quanta diferença
uma pessoa faz no mundo...
Nós olhamos para dentro
de nós mesmos, profundo
questionando um intento:
se temos a capacidade
de um heroísmo, ou de uma grandeza.
Se nossa real identidade
não se perdeu buscando sua natureza.

Mas a verdade é que toda vez que agimos
causamos um impacto, de qualquer jeito.
Cada coisa que fazemos, tem seu efeito
nas pessoas ao nosso redor, as atingimos.
Cada escolha que fazemos, e por direito,
têm consequências pelo mundo: destinos

Nossos menores atos de bondade, amigáveis
podem causar uma reação em cadeia enorme,
com benefícios imprevisíveis, e inimagináveis
para pessoas quais nunca saberemos o nome...

Muitos mistérios nunca nos serão revelados
Mas sempre tecem
meio à esmo...
Nós podemos não testemunhar os resultados
Mas eles acontecem
assim mesmo…

Uirá Felipe Grano Gaspar - 11.12.16 

terça-feira, 29 de novembro de 2016

CASULO SENSORIAL





Por um ínfimo instante, assim pego bem de surpresa, um certo silêncio monumental ensurdeceu-me de tudo que trovejava ao meu redor. Todo o universo exterior, que antes me engolia numa surdez barulhenta, calou-se, inexplicável e simplesmente. Talvez não tenha durado mais que alguns segundos, não sei ao certo, mas meus pensamentos velozes e meu coração descompassado, pulsando vulcânico, fizeram essa sensação parecer ter durado toda uma eternidade, que indelével. 

De repente, não havia mais aquele somatório de burburinhos da centena de trabalhadores espalhados pelas salas e corredores ao meu redor. E todos aqueles inúmeros aparelhos de TV, que berravam, em caótico uníssono, de incontáveis direções, ficaram totalmente mudos; um susto e uma benção. E aquele som enlouquecedor das lâmpadas fluorescentes zumbindo, e ainda, todas as incontáveis máquinas com suas poderosas correntes elétricas infiltradas nas paredes, percorrendo os tetos todos, desligaram o somatório de vibratos em ecos sem fim, como um exército de insetos invisíveis que de repente param de marchar. Foi então que aquela imagem de um espelho de frente para outro, em reflexão infinita, não mais ilustrava toda essa minha recorrente angústia auditiva. O que exatamente estava acontecendo comigo?  

Eu estaria pois morrendo, assim, não mais que de repente? 
Seria esse o meu fim? Ou meu fim, seria pois, outro? 
Um novo começo então, com nova velocidade em outra direção?
Seria o despertar da minha real finalidade, uma real motivação?

O que eu senti mesmo foi uma paz inefável me percorrer por inteiro... Só o que eu podia ouvir eram meus próprios sons internos, a consciência do meu próprio ritmo vital me preenchendo de um aqui e agora totalmente particulares: meu coração um atabaque, nervoso feito capoeira de rua, minhas hemácias se esbarrando, se espremendo e se empurrando claustrofóbicas, fluindo esbaforidas tal qual um caótico engarrafamento apressado, através de meu labiríntico sistema circulatório... Meus pulmões se inflando, dois balões enormes, e o som do ar escoando lentamente pela minha boca, minha garganta seca se entreabrindo numa salivação intensa e inesperada, meus dentes calorentos do ar que os contornava antes de deixar meus lábios trêmulos e ferventes... 

Na realidade eu estava mesmo apavorado à princípio, meu ritmo cardíaco completamente acelerado e fora de controle, uma tonteira inescapável me fazendo crer que, no mínimo, eu desmaiaria a qualquer instante... Mas aquela súbita ausência dos tantos estímulos externos, todo aquele caos sonoro insuportável enfim me ofertando uma pausa até então inimaginável, ainda que misteriosa e súbita, todo aquele vazio que era ao mesmo tempo pânico e alívio, tudo isso me encheu foi de um estado de graça e uma estranhíssima gratidão quase mórbida, porque eu não fazia idéia do que estava me acontecendo de fato. Mas mesmo que eu desmaiasse nos próximos segundos, eu sentia essa serenidade incomensurável me adornar feito maresia noturna de verão. Era como um esquecimento, só que voluntário, como um trauma sendo deletado, sem dor nem resíduos, uma câimbra se anestesiando, músculo descontraindo, uma batalha que enfim se dava por vencida, mas ainda assim, vitoriosa...

Não, aquilo não havia sido uma surdez, não mesmo. Me dei conta que era justamente o oposto, um súbito controle pleno da minha hiper sensível audição, que inclusive apelidei de "m_audição" numa forma bem humorada de encarar tudo o que eu vinha me permitido suportar, indo tão contra meus mais primitivos instintos de reconhecer o habitat de minha felicidade ... Percebi que era apenas o despertar de um poder próprio, o de ter enfim algum controle para ouvir somente aquilo que me interessava de fato: toda uma epifania transformando minha consciência dentro daqueles breves instantes. 

Meu próprio organismo, era só o que eu queria sentir então, queria saber-me novamente, me permitir reconhecer meu princípio vital novamente, e só ouvir minhas próprias emoções, que sonho! Foi como alcançar o auge de um estado meditativo mesmo em meio à uma multidão urbanóide do centro da cidade às seis da tarde de uma sexta-feira afobada e turbulenta...

Mas era só mais uma quarta-feira, típica, ilhada no meio de uma semana que, a cada dia, parecia mais e mais longa do que o de costume... Apenas um fragmento de um mesmo cotidiano, adoecido pela ansiedade de uma pressa artificial, uma tal pressão tão ilusória que, diariamente, contaminava um a um todo o coletivo de trabalhadores que dividiam aquele espaço. Estavam todos muito mais acostumados a reagir que de fato agir; igualzinho aqeula histeria que se espalha veloz entre os banhistas da praia do arpoador sob a ameaça de um possível arrastão, que na maioria das vezes não é absolutamente nada... Todos os dias um tsunami arrasta à todos naquele ambiente de trabalho, sem que percebam a loucura que os afoga até expelirem, seja numa voz alterada ou num ataque de raiva incoerente, um pouco do veneno de suas frustrações pessoais, inconsequente e inconscientemente. 





Três segundos? 30 segundos? Um terço de um segundo? Tudo que vivi, senti e aprendi naquele ligeiro intervalo sensorial, me causou um terremoto existencial, uma reação em cadeia, transformando cada célula de meu corpo sem que eu pudesse voltar atrás... Era a expansão de minha consciência, acessando uma nova dimensão de pensamento; sabia desde então que jamais voltaria ao antigo estado de alienação...

E todo o meu medo revelou-se então coragem, e aquilo tudo que era dúvida, fez-se decisão. A velocidade realmente pouco importa quando encontramos a certeza calma de uma direção em sintonia com a alma e o coração.


domingo, 27 de novembro de 2016

ÁGUA EM SEMENTE















.
.


Vida é quando há realização
de movimento em um espaço...

Ela é aquela força de atração
capaz de aglutinar um abraço.

Vida é o criar da reunião
entre algum desejado fato
e um impulso de decisão;
o equilíbrio nesse impacto.

Um permitir-se numa aceleração
em rompimento com o estático,
inércia que recebe uma intenção
com a coragem para ser prático.

É o satisfazer dum coração
em traduzir-se n'algum ato...
é música, mas não é violão
é a água contida num cacto.

Pois sonho não é uma ilusão
é magia e é como um pacto
que faz do poder da criação
um universo possível e apto

Mistérios para sempre existirão
até no pensamento mais rápido
o romper duma nova dimensão
requer o intento mais impávido

sábado, 26 de novembro de 2016

O JARDIM UNIVERSAL




























Quando uma borboleta me árvore 
rufla encantos dentro de meus olhos,
enraíza-me brilhos, asas dançantes
e lágrimas me sorriem esvoaçantes    

Sinto nos pés o cheiro verde,
e a terra barrenta e vermelha 
afagos deslizam nas costas um cometa
é a ventania do movimento do planeta..

A ausência de um fim já que nos passagem
e sei-nos enfim na sintonia duma paisagem

De esperto, desperto numa imagem natural:
árvores e felicidades só existimos no plural

E por um ínfimo instante, identidade
a aparência do particular...

A existência cria sua própria verdade
essa, sempre no singular..

PARÁGRAFO AUTOBIOGRÁFICO
































...sobre UIRÁ FELIPE: 

das origens à sua essência maior


"Nasci peixe à beira do pacífico, rodeado de golfinhos. Ainda de fraldas, comecei a coletar cristais e pedras, fui adotado pela fauna tropical onde plantas me ensinaram a falar, cresci com raízes em cachoeiras e fui diagnosticado poeta precoce com graves transtornos retóricos. Fui estudar nos palcos mas me formei mesmo em paisagens, mas, fotografando, me tornei editor de vídeo e comecei a cantar a trilha sonora do cinema de poesias incuráveis que plantei num jardim de metáforas que não conseguia parar de inventar. Mergulhei nas estrelas pra estudar mistérios e aprendi a amar incondicionalmente, foi quando descobri minha verdadeira vocação: MUDAR."

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

AQUARELA DE EMOÇÕES



Curvando a paisagem
vejo o horizonte sorrir.
É essa a minha imagem:
é céu, é mar, é dividir;
imagino, e não é miragem.
O que vejo, posso colo.rir..
Criar é minha linguagem,
inventar é também sentir...

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

SONHO (de Doce Deleite)

O barulho, por todos os lados, me aprisiona numa sucessão de agoras dos quais tento me libertar. Luto pra fugir desse luto, esse abandono do tempo que apenas observo, sem passar. Ao meu redor todo o espaço a me imprensar, imprensa montanhosa que já mal consegue me impressionar. Me camuflo de vitrine sem oferta. Mudo, fecho os olhos por instantes, como se o escuro artificial pudesse trazer algum silêncio à tempestade de palavras que me ensurdecem com versos perversos. Em casa, uma armadilha ainda mais traiçoeira me aguarda, outra madrugada aracnídea. O silêncio hipnótico me atrai como as lâmpadas atraem os insetos ao cair da noite. A solidão me conforta com sua teia de lacunas e silêncios. Sou anestesiado por essas ausências, me preencho com os vazios onde poesias invisíveis me pesam feito pedras a me soterrar. Um deserto que não consigo desviar, e atravesso, travesso, fingindo que desconheço as dores que não me permitem sonhar.

Deito sobre parágrafos, travesseiros me atravessam com metáforas oníricas, lágrimas de cristal arranham-me empíricas, antevendo saudades que me arrependi de inventar. Memórias ocupam todas as paredes, as fomes e as sedes. Quero abraçar o incerto como se houvesse garantia sem nem mesmo comprar. Aceito o inevitável, meu peito indomável, abriga um poderoso instrumento de criar realidades inefáveis, as quais não consigo controlar. O desejo me despe e me despeja, procuro o carinho de suas mãos e um caminho pra driblar os nãos e num pedacinho de detalhe te encontrar.

Um orvalho de repente congela, sereno imóvel. Meus pés aglutinados num tapete de geada que só não solidifica o tempo. Mas embriaga-me, num derreter de sensibilidades em contato com o ar quente. Estático, sem vento algum pra me embrulhar de movimento, sou apenas (de)coração duma paisagem mergulhada em breu. Abri a porta pra você entrar, mas a deixei alerta; uma brisa a atravessa, aberta com dúvidas e medo. Não escondo meu segredo, transparente e estabanado, derrubo a lente que tentava capturar o seu sorriso. É só riso que me habita enquanto penso na gente, pra sempre, vivendo naquele sonho que a realidade não mais soube como acreditar. Mas eu persisto, acredito, cego como o amor, vejo o infinito, e sei, vendo os raios de sol no seu olhar, que lá na profundidade do seu abissal ocular, o nosso abraço nunca vai se desatar: somos nós. Náufragos, a nos embarcar.

Seria tão mais simples chorar, mas sou um soluço tropeçando em cachoeiras até me espatifar nas corredeiras. (Só mesmo...) Assim me obrigo a extrair de dentro de mim o veneno da amargura que perdura. Me liberto da prisão dessa armadura que confeccionei, secretamente, sem qualquer estrutura, e na imensidão desse horizonte, repouso. Aterrizo minhas raízes para alimentar minha luz própria, seu sol mal podia me iluminar escondido por entre as nuvens por onde eu flutuava, desejando me precipitar. Aceito essa nova terra crua, onde derramo a chuva que já não podia se acumular. E assim, permito fluir uma irrigação natural. Um novo ciclo que (me) perdura, catalisando o fertilizante capaz de nutrir minha alma navegante, que buscava o eclodir de minha endêmica cura.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

TRIVIAL EFÊMERO




























Ventanias do instável
inventos em ventos
templos dos tempos
este ciclo incalculável
deste repetir de entropias
imperceptíveis sinestesias
mediante à efemeridade cinética
de vivos fatos, alheios à dialética
As filosofias dos poetas, dos profetas
são uma só teia de mentes, inquietas


Algo ecoa numa caverna sem fundo
o espelho das dimensões do mundo
tudo o que se faz, já se fez
é repetição de primeira vez
existirá equação que calcule o instante?
O que determina saber o futuro avante?
Tudo se reflete, cada curva errada
ela repete, adiante noutra estrada...

Mas em toda nova curva
atrás duma neblina turva
sempre nos aguarda
uma escuridão parda
desprovida de arquétipo
o mistério de um inédito

Sempre haverá uma primeira vez
sensação-coragem de insensatez
impulso de ação transbordada
aquela decisão tão inesperada
mesmo à sensibilidades caladas
premonições sutis e camufladas

As intenções reprimidas são reveladas
emoções escondidas e desgovernadas
na busca por uma busca
o pensamento se ofusca
em uma espera por não esperar mais nada
pra que vente um alívio na alma angustiada
aceleramos o passo nesse trôpego impasse
tentando rasgar esse nosso sôfrego disfarce

A adrenalina só se finge ser frenética
pra observamos mutação na estética
que o nosso mundo-homem só desconstrói
numa evolução desenfreada, qual se corrói

E patinando completamente cega
em um progresso, tal qual alega
em conexão inevitável, e coletiva
somos todos lenha da locomotiva

Uma 'louco-motiva' descontrolada
só seguimos no fluxo, em manada

O sentido dessa tal vida-estrada
nas incertezas ela é estruturada
e não ter ao fim, aliviada
alguma certeza emanada


Só por lógica é que nada se sabe
Pois que nesta vida não nos cabe
ver assim óbvia, sendo em vão programada
no coração que a calma pode ser vivenciada

e é pela ação de uma alma já por fim libertada
que revela-se a motivação qual lhe é destinada

O trivial é apenas um passa-tempo
o simples é a beleza dum momento
só a sutileza, sublime, nos faz enxergar;
que natureza se imprime por todo lugar:


A felicidade está por todas as coisas
[Sutil beleza camuflada sem roupas] 

Os uni-versos, em cada olhar,
só os verá quem decidir amar . . .


ÍMÃ≈gin≈AÇÃO
























Imagine
que ao seguir essa fileira de letras
de um certo apanhado de palavras
haverá uma reunião de versos
cheios de potenciais diversos . . .

Uma proposta:
Não tente descobrir o que eu imaginei
nem tente adivinhar coisa alguma,
nenhum significado oculto, eu não sei
não há intenção poética, nenhuma
só imagine, você

e ouça, o que ler
tudo em teu ser
é sua resposta

[e isso já é inevitável]

Entenda, que tudo o que você sente

não há mais ninguém que o invente
as abracadabras, estão nessas viagens

não nas palavras, mas nessas imagens
que você as vai criando ao lê-las
você as desenha ao percorrê-las...

As palavras que reúno
não são roteiros
nem esboços,
nem verdades
nem poesias
são vazias

são vão
se vão:

só nada

E somente você é o responsável
pelos significados que terão
o universo é uma argila moldável
cada instante é sua criação

As palavras lidas são inventadas
não por mim. Não, eu não!
Foi você quem as escreveu e
por seus olhos foram libertadas

Seu olhar é o único poeta
capaz de fazer poesia crua
por essa distância secreta
que você desfaz na leitura

Se encontrar alguma estrutura
alguma lógica, ou uma epifania
é inteiramente sua essa poesia

Se enxergar algum resquício de beleza
reconhecer algum princípio de natureza
Não sou o poeta que faz nascer a fonte
é você, leitor, quem inventa uma ponte

E tudo mais o que você viver
seja dor, amor, sabor, prazer
todo seu universo, saiba
que o quer que lhe caiba
tudo vem do dentro em você...


domingo, 28 de agosto de 2016

O ÓBVIO INVERSO













Silêncio e madrugada me atravessam
como a utopia preenche a esperança
procurando aquilo que já me esqueci
lembro que não encontrei o meu aqui

a manhã traz músicas que ameaçam
entropia na invenção da lembrança
sonhei que seria infinito meu sorrir
mas desconheço tudo que descobri

Ouço as estrelas me respirando
o vento a colorir na escuridão
decifrar a fórmula é no entanto
impulso original dum coração

derretimento de geleiras microscópicas
ruído sangüíneo, minhas veias ilógicas
as artérias labirinto, evaporam pensamentos
e em meus pés gira o ronco dos cata-ventos

há o amor em tudo que impossível é
importa se não sei o pronome da fé?
meu abraço tem infinitos sem espaço
a cada passo toco o cheiro do inexato

Só quero amar o imediato no seu olho
e quando testemunho seu lamento
a dor errante obstruí o sentimento
em teu sonho me deito e me recolho...


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Insta.véu


Eu tô triste porque tô desejando um abraço teu que você já não tem(os). Tô triste porque quero conversar, mesmo que em silêncio, e todo o seu corpo só sabe dizer barulho ultimamente. Tô triste, sim, triste porque já não sei mais quem você é... Já não sei, mas... Quem você é?
Triste de tentar te enxergar através dessa iris inquieta e só vê-lo num espelho que não reflete sua verdadeira natureza. Triste porque tenho saudade dessa natureza que não sei em que universo ou www você a (se) perdeu, ou melhor, escondeu, de mim, de você mesmo; você se re-re-re-inventando e todo dia tão previsivelmente, sem espanto nenhum. Cadê aquele azul inexplicável no céu do boa noite? Por que essas últimas noites se transformaram em manhãs sem doçura, na angústia de uma claustrofobia atrofiada? Cadê aqueles tons laranjas todos estourando a saturação no pôr do sol dos nossos instagrans? E eu pensando que era sol que me faltava, mas não, era só; mesmo. Era só, o só, me faltava. Me falta. Me volta. Re-volta...



domingo, 14 de agosto de 2016

PASSO















Sou esquinas
cruzamentos em ladeiras
sou paralelepípedos
cimento e muros
poeira e musgos
e sou também paisagem

sigo admirando,
plantas que vou vendo
vendo tanto que sendo
indo que apenas ando

Desprevenido vou que tento
aos poucos percebo sutil
aquilo que eu mesmo invento
e vendo, querendo, sabendo
termino me desconhecendo

porque sempre que escrevo
e mesmo quando apenas descrevo
falo daquilo que sou
porque sou incapaz de escapar disso

enquanto sendo, sei-me que vou
vi-vendo
muito além do óbvio porque estou vivo
e era isso
nisso que ando

precisando contar 
disso 
que não sei falar

ao subir ladeiras
desço profundo no passado
meu e da cidade

nosso

e a plenitude caminha
sabiamente insatisfeita
como uma cadela ainda jovem
que se realiza, ainda que em pânico
no escapar desprevenido
de um coleira que se solta
um susto de liberdade
um sabor de coragem e medo
que de repente volta e se revolta
Sou este cão
neste exato momento
entre a coleira
e o deja'vú
de uma tal liberdade

sou esta exitação
num olhar que se desprende
solto
entre o caminho e a paisagem

Sou doméstico e sou selvagem

sou amor somado à libertinagem
Dor que se estica em sabedoria
Susto que se converte em alegria
Saudade que desembarca de longa viagem

Sou sonho em plena realidade
e pleno
mesmo em um mundo de crueldade
sou amor consciente
e paixão à beira da loucura
sou o sabor do onipresente
e o som vivo de uma textura

Esquinas
cruzamentos
ladeiras
paralelepípedos
monumentos
muros
tijolos
furos
entulhos
becos
embrulhos
escadas
praças
curvas
estradas
dobrando...

Ando

porque sempre que escrevo

mesmo se apenas descrevo
comunico naquilo que sou
vou incapaz de escapar 

do que estando...

a trajetória da vida
é portanto como uma onda
que é uma energia infinita
e ao mesmo tempo redonda


ADVINHO
















Quase nada não é ilusão 

e em tudo que há verdade
Entrego-me em tamanha atenção 

O que desconheço, é também realidade? 

Do que acredito que sei 
o não saber é minha identidade 
testemunha dos meus pensamentos 
observador de sentimentos 
Estudante do mundo 
um universo dentro de mim... 

Mergulho sorrisos em paisagens 
beijos em geologia e admiração humanas 
e assim, advinho a felicidade 
quando lambe por mim o amor em chamas


quarta-feira, 20 de julho de 2016

A TRAVESSIA E O TRAVESSO



























Tenho andado assim, meio sonso... É isso aí, um sonso mesmo. Mas é dum tipo de cinismo invisível aos outros, só tem efeito diante do meu próprio ser. É tipo uma hipocrisia, só que apenas eu me faço ser enganado. Disfarces que me são privados e auto-inventados, absolutamente particulares. São apenas do meu próprio desconhecimento... Não chegam a ser secretos mas enganam-me com astúcia... Bem, não sei se é exatamente isso, acho que não, não sei, pera aí... Calma! Ai, sei lá, acho que não é bem isso que quero dizer, mas tô tentando... Só um instante, deixa eu ver... Ah... Melhor tentar por um outro labirinto de palavras...

A questão é que eu tenho precisado inventar pra mim mesmo esse montão de mentirinhas completamente bestas, bem idiotas mesmo, besteira total. São do tipo de mentiras bem descaradas mas totalmente despretensiosas. E olha que eu minto bem, muito bem por sinal, modéstia à parte! Mas ao mesmo tempo que são mentiras inofensivas, e um tanto infantis, eu sei, são também muito poderosas. Porque é desse meu joguinho de fingimentos bobos que faço nascerem as sensações mais reais e agradáveis do meu dia-a-dia ultimamente... Bem, não é lá essas coisas, nada extravagante não, mas ao menos são vivências digamos que menos desagradáveis, bem mais leves não fosse esse teatrinho secreto me camuflando de mim mesmo. Ah sei lá, .. Já não sei se estou conseguindo me fazer entender não... Será? Ah... Nossa! É tão difícil simplificar, e tão fácil complicar! Ih, Opa! Acho que é bem por aí isso que eu tô tentando explicar... Vamos lá...

É tipo assim: eu vou seguindo nessa estrada, um caminho todo cercado de ausências desérticas, e tudo ao meu redor de repente começa a pegar fogo. Um fogaréu imenso mesmo, lambendo tudo em volta numa violência brutal e totalmente descabida, sem explicação, sem controle e nem razão, assim, lamentavelmente desnecessária... É que no fundo eu sei que toda essa guerrilha de labaredas ao meu redor não passa de uma mera fogueira de vaidades sem pudor. Então eu sei que mesmo passando por entre esse combustível corredor ardente eu não tenho como me queimar, jamais! Porque eu não sou lá muito inclinado à vaidades... Meus orgulhos são bem tímidos e humildes, tão insignificantes que nem carece que sejam citados... Mas assim, só pra me resguardar mesmo, é que, secretamente, tenho criado esse meu jogo sonso, e assim me disfarço todo e me finjo, faço que sou todo feito de água...

Isso mesmo! É... Água! Porque então ao invés de seguir nessa avenida calorenta e engarrafada, eu me aproveito de todo esse asfalto fervoroso e vou fluindo... Me encolho e escolho ser inteiramente um rio, isso! Um rio indo e rindo. E aí no meio dessas faíscas barulhentas, ao invés de ir me apavorando, eu vou só me evaporando... mas discretamente. Ninguém nem percebe que eu vou passando, molécula por molécula, todas bem minúsculas e molecas, e daí depois vou me reagrupando bem lá em cima, já me condensando todo em nuvem de um modo que ninguém nem se dá conta dessa aglutinação que minha imaginação me apronta... É isso que me ajuda a driblar esses vulcões que toda hora vivem entrando em ebulição à minha volta... É isso que me faz poder olhar de longe de toda essa revolta, bem lá de cima, como no olhar duma gaivota. E tudo isso só pra encontrar um cantinho que seja todo meu e assim como eu: desconhecido, inexplorado. Bem lá no meio duma floresta qualquer, mas dessas bem preenchidas de verdes, raízes e seus silêncios musicados. Lá eu passo todo pássaro, passeando até me desabar em cachoeira pra ir dançando por entre as pedras todas cheias de musgos, e com aqueles cheirinhos minerais tão familiares e aconchegantes... Assim, faço das mentiras minhas verdades mais calmantes.

Mas é claro que em algum momento há de recomeçar uma série de trovoadas... Tem sempre uma frente fria por vir, rondando e ameaçando chover... A meteorologia alerta que há possibilidade de relâmpagos em toda parte. Mas sei que não poderão me acertar, pois me fantasio de arte... Eu ignoro notícias e previsões, continuo com essa minha brincadeira dissimulada, nadando nas ilusões que eu mesmo crio. Sigo inventando os meus silêncios, mesmo sabendo que não é possível essa coisa de ficar inventando ausências... E mesmo assim eu insisto nesses meus fingimentos, ainda que meio cretinos, eu sei, eu sei, eu sei... Confesso! Desnecessários talvez, mas pra mim são inevitáveis, eles que são o meu recesso, meu pacífico protesto...

É que se de alguma forma eu acabo sendo empurrado pra essas realidades à que despertenço, já que apesar de me saber tijolo eu não nasci pra ser muro, muito menos pra me cercar de cimento e viver esmagado de fronteiras, minha natureza é a de fazer pontes, é isso! Eu tô muito mais pra desconstruir distâncias que pra ficar preenchendo vazios e suas inúteis futilidades...

É por isso que consigo me manter ventando maresia mesmo enquanto sou arrastado por tempestades. Tudo por causa dessa coisa mansa de brincar comigo mesmo, fingido que só eu que sei; vou todo disfarçado de brisa bem lá no meio dos furacões todos, é minha escolha, minha distração: a minha loucura é a ao mesmo tempo minha salvação, fazer o quê, ué? Pra mim detergente é muito mais legal quando bolinhas de sabão...

Quando eu sou engolido por um tornado e começo a girar descontrolado, prefiro mesmo gargalhar, me mijar de rir... E aproveitar feito um parque de diversão, sei lá! Me basta fingir que há uma prancha em meus pés pra eu ir driblando todo e qualquer alheio surto, e nesse túnel, apenas surfo... Pois surfista, sinto-me muito mais eu, precisamente como haveria sonhado...

Sim, sim, eu sei... De um jeito ou de outro, é tudo mesmo inventado...