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quarta-feira, 20 de julho de 2016

A TRAVESSIA E O TRAVESSO



























Tenho andado assim, meio sonso... É isso aí, um sonso mesmo. Mas é dum tipo de cinismo invisível aos outros, só tem efeito diante do meu próprio ser. É tipo uma hipocrisia, só que apenas eu me faço ser enganado. Disfarces que me são privados e auto-inventados, absolutamente particulares. São apenas do meu próprio desconhecimento... Não chegam a ser secretos mas enganam-me com astúcia... Bem, não sei se é exatamente isso, acho que não, não sei, pera aí... Calma! Ai, sei lá, acho que não é bem isso que quero dizer, mas tô tentando... Só um instante, deixa eu ver... Ah... Melhor tentar por um outro labirinto de palavras...

A questão é que eu tenho precisado inventar pra mim mesmo esse montão de mentirinhas completamente bestas, bem idiotas mesmo, besteira total. São do tipo de mentiras bem descaradas mas totalmente despretensiosas. E olha que eu minto bem, muito bem por sinal, modéstia à parte! Mas ao mesmo tempo que são mentiras inofensivas, e um tanto infantis, eu sei, são também muito poderosas. Porque é desse meu joguinho de fingimentos bobos que faço nascerem as sensações mais reais e agradáveis do meu dia-a-dia ultimamente... Bem, não é lá essas coisas, nada extravagante não, mas ao menos são vivências digamos que menos desagradáveis, bem mais leves não fosse esse teatrinho secreto me camuflando de mim mesmo. Ah sei lá, .. Já não sei se estou conseguindo me fazer entender não... Será? Ah... Nossa! É tão difícil simplificar, e tão fácil complicar! Ih, Opa! Acho que é bem por aí isso que eu tô tentando explicar... Vamos lá...

É tipo assim: eu vou seguindo nessa estrada, um caminho todo cercado de ausências desérticas, e tudo ao meu redor de repente começa a pegar fogo. Um fogaréu imenso mesmo, lambendo tudo em volta numa violência brutal e totalmente descabida, sem explicação, sem controle e nem razão, assim, lamentavelmente desnecessária... É que no fundo eu sei que toda essa guerrilha de labaredas ao meu redor não passa de uma mera fogueira de vaidades sem pudor. Então eu sei que mesmo passando por entre esse combustível corredor ardente eu não tenho como me queimar, jamais! Porque eu não sou lá muito inclinado à vaidades... Meus orgulhos são bem tímidos e humildes, tão insignificantes que nem carece que sejam citados... Mas assim, só pra me resguardar mesmo, é que, secretamente, tenho criado esse meu jogo sonso, e assim me disfarço todo e me finjo, faço que sou todo feito de água...

Isso mesmo! É... Água! Porque então ao invés de seguir nessa avenida calorenta e engarrafada, eu me aproveito de todo esse asfalto fervoroso e vou fluindo... Me encolho e escolho ser inteiramente um rio, isso! Um rio indo e rindo. E aí no meio dessas faíscas barulhentas, ao invés de ir me apavorando, eu vou só me evaporando... mas discretamente. Ninguém nem percebe que eu vou passando, molécula por molécula, todas bem minúsculas e molecas, e daí depois vou me reagrupando bem lá em cima, já me condensando todo em nuvem de um modo que ninguém nem se dá conta dessa aglutinação que minha imaginação me apronta... É isso que me ajuda a driblar esses vulcões que toda hora vivem entrando em ebulição à minha volta... É isso que me faz poder olhar de longe de toda essa revolta, bem lá de cima, como no olhar duma gaivota. E tudo isso só pra encontrar um cantinho que seja todo meu e assim como eu: desconhecido, inexplorado. Bem lá no meio duma floresta qualquer, mas dessas bem preenchidas de verdes, raízes e seus silêncios musicados. Lá eu passo todo pássaro, passeando até me desabar em cachoeira pra ir dançando por entre as pedras todas cheias de musgos, e com aqueles cheirinhos minerais tão familiares e aconchegantes... Assim, faço das mentiras minhas verdades mais calmantes.

Mas é claro que em algum momento há de recomeçar uma série de trovoadas... Tem sempre uma frente fria por vir, rondando e ameaçando chover... A meteorologia alerta que há possibilidade de relâmpagos em toda parte. Mas sei que não poderão me acertar, pois me fantasio de arte... Eu ignoro notícias e previsões, continuo com essa minha brincadeira dissimulada, nadando nas ilusões que eu mesmo crio. Sigo inventando os meus silêncios, mesmo sabendo que não é possível essa coisa de ficar inventando ausências... E mesmo assim eu insisto nesses meus fingimentos, ainda que meio cretinos, eu sei, eu sei, eu sei... Confesso! Desnecessários talvez, mas pra mim são inevitáveis, eles que são o meu recesso, meu pacífico protesto...

É que se de alguma forma eu acabo sendo empurrado pra essas realidades à que despertenço, já que apesar de me saber tijolo eu não nasci pra ser muro, muito menos pra me cercar de cimento e viver esmagado de fronteiras, minha natureza é a de fazer pontes, é isso! Eu tô muito mais pra desconstruir distâncias que pra ficar preenchendo vazios e suas inúteis futilidades...

É por isso que consigo me manter ventando maresia mesmo enquanto sou arrastado por tempestades. Tudo por causa dessa coisa mansa de brincar comigo mesmo, fingido que só eu que sei; vou todo disfarçado de brisa bem lá no meio dos furacões todos, é minha escolha, minha distração: a minha loucura é a ao mesmo tempo minha salvação, fazer o quê, ué? Pra mim detergente é muito mais legal quando bolinhas de sabão...

Quando eu sou engolido por um tornado e começo a girar descontrolado, prefiro mesmo gargalhar, me mijar de rir... E aproveitar feito um parque de diversão, sei lá! Me basta fingir que há uma prancha em meus pés pra eu ir driblando todo e qualquer alheio surto, e nesse túnel, apenas surfo... Pois surfista, sinto-me muito mais eu, precisamente como haveria sonhado...

Sim, sim, eu sei... De um jeito ou de outro, é tudo mesmo inventado...




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