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terça-feira, 30 de agosto de 2016

TRIVIAL EFÊMERO




























Ventanias do instável
inventos em ventos
templos dos tempos
este ciclo incalculável
deste repetir de entropias
imperceptíveis sinestesias
mediante à efemeridade cinética
de vivos fatos, alheios à dialética
As filosofias dos poetas, dos profetas
são uma só teia de mentes, inquietas


Algo ecoa numa caverna sem fundo
o espelho das dimensões do mundo
tudo o que se faz, já se fez
é repetição de primeira vez
existirá equação que calcule o instante?
O que determina saber o futuro avante?
Tudo se reflete, cada curva errada
ela repete, adiante noutra estrada...

Mas em toda nova curva
atrás duma neblina turva
sempre nos aguarda
uma escuridão parda
desprovida de arquétipo
o mistério de um inédito

Sempre haverá uma primeira vez
sensação-coragem de insensatez
impulso de ação transbordada
aquela decisão tão inesperada
mesmo à sensibilidades caladas
premonições sutis e camufladas

As intenções reprimidas são reveladas
emoções escondidas e desgovernadas
na busca por uma busca
o pensamento se ofusca
em uma espera por não esperar mais nada
pra que vente um alívio na alma angustiada
aceleramos o passo nesse trôpego impasse
tentando rasgar esse nosso sôfrego disfarce

A adrenalina só se finge ser frenética
pra observamos mutação na estética
que o nosso mundo-homem só desconstrói
numa evolução desenfreada, qual se corrói

E patinando completamente cega
em um progresso, tal qual alega
em conexão inevitável, e coletiva
somos todos lenha da locomotiva

Uma 'louco-motiva' descontrolada
só seguimos no fluxo, em manada

O sentido dessa tal vida-estrada
nas incertezas ela é estruturada
e não ter ao fim, aliviada
alguma certeza emanada


Só por lógica é que nada se sabe
Pois que nesta vida não nos cabe
ver assim óbvia, sendo em vão programada
no coração que a calma pode ser vivenciada

e é pela ação de uma alma já por fim libertada
que revela-se a motivação qual lhe é destinada

O trivial é apenas um passa-tempo
o simples é a beleza dum momento
só a sutileza, sublime, nos faz enxergar;
que natureza se imprime por todo lugar:


A felicidade está por todas as coisas
[Sutil beleza camuflada sem roupas] 

Os uni-versos, em cada olhar,
só os verá quem decidir amar . . .


ÍMÃ≈gin≈AÇÃO
























Imagine
que ao seguir essa fileira de letras
de um certo apanhado de palavras
haverá uma reunião de versos
cheios de potenciais diversos . . .

Uma proposta:
Não tente descobrir o que eu imaginei
nem tente adivinhar coisa alguma,
nenhum significado oculto, eu não sei
não há intenção poética, nenhuma
só imagine, você

e ouça, o que ler
tudo em teu ser
é sua resposta

[e isso já é inevitável]

Entenda, que tudo o que você sente

não há mais ninguém que o invente
as abracadabras, estão nessas viagens

não nas palavras, mas nessas imagens
que você as vai criando ao lê-las
você as desenha ao percorrê-las...

As palavras que reúno
não são roteiros
nem esboços,
nem verdades
nem poesias
são vazias

são vão
se vão:

só nada

E somente você é o responsável
pelos significados que terão
o universo é uma argila moldável
cada instante é sua criação

As palavras lidas são inventadas
não por mim. Não, eu não!
Foi você quem as escreveu e
por seus olhos foram libertadas

Seu olhar é o único poeta
capaz de fazer poesia crua
por essa distância secreta
que você desfaz na leitura

Se encontrar alguma estrutura
alguma lógica, ou uma epifania
é inteiramente sua essa poesia

Se enxergar algum resquício de beleza
reconhecer algum princípio de natureza
Não sou o poeta que faz nascer a fonte
é você, leitor, quem inventa uma ponte

E tudo mais o que você viver
seja dor, amor, sabor, prazer
todo seu universo, saiba
que o quer que lhe caiba
tudo vem do dentro em você...


domingo, 28 de agosto de 2016

O ÓBVIO INVERSO













Silêncio e madrugada me atravessam
como a utopia preenche a esperança
procurando aquilo que já me esqueci
lembro que não encontrei o meu aqui

a manhã traz músicas que ameaçam
entropia na invenção da lembrança
sonhei que seria infinito meu sorrir
mas desconheço tudo que descobri

Ouço as estrelas me respirando
o vento a colorir na escuridão
decifrar a fórmula é no entanto
impulso original dum coração

derretimento de geleiras microscópicas
ruído sangüíneo, minhas veias ilógicas
as artérias labirinto, evaporam pensamentos
e em meus pés gira o ronco dos cata-ventos

há o amor em tudo que impossível é
importa se não sei o pronome da fé?
meu abraço tem infinitos sem espaço
a cada passo toco o cheiro do inexato

Só quero amar o imediato no seu olho
e quando testemunho seu lamento
a dor errante obstruí o sentimento
em teu sonho me deito e me recolho...


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Insta.véu


Eu tô triste porque tô desejando um abraço teu que você já não tem(os). Tô triste porque quero conversar, mesmo que em silêncio, e todo o seu corpo só sabe dizer barulho ultimamente. Tô triste, sim, triste porque já não sei mais quem você é... Já não sei, mas... Quem você é?
Triste de tentar te enxergar através dessa iris inquieta e só vê-lo num espelho que não reflete sua verdadeira natureza. Triste porque tenho saudade dessa natureza que não sei em que universo ou www você a (se) perdeu, ou melhor, escondeu, de mim, de você mesmo; você se re-re-re-inventando e todo dia tão previsivelmente, sem espanto nenhum. Cadê aquele azul inexplicável no céu do boa noite? Por que essas últimas noites se transformaram em manhãs sem doçura, na angústia de uma claustrofobia atrofiada? Cadê aqueles tons laranjas todos estourando a saturação no pôr do sol dos nossos instagrans? E eu pensando que era sol que me faltava, mas não, era só; mesmo. Era só, o só, me faltava. Me falta. Me volta. Re-volta...



domingo, 14 de agosto de 2016

PASSO















Sou esquinas
cruzamentos em ladeiras
sou paralelepípedos
cimento e muros
poeira e musgos
e sou também paisagem

sigo admirando,
plantas que vou vendo
vendo tanto que sendo
indo que apenas ando

Desprevenido vou que tento
aos poucos percebo sutil
aquilo que eu mesmo invento
e vendo, querendo, sabendo
termino me desconhecendo

porque sempre que escrevo
e mesmo quando apenas descrevo
falo daquilo que sou
porque sou incapaz de escapar disso

enquanto sendo, sei-me que vou
vi-vendo
muito além do óbvio porque estou vivo
e era isso
nisso que ando

precisando contar 
disso 
que não sei falar

ao subir ladeiras
desço profundo no passado
meu e da cidade

nosso

e a plenitude caminha
sabiamente insatisfeita
como uma cadela ainda jovem
que se realiza, ainda que em pânico
no escapar desprevenido
de um coleira que se solta
um susto de liberdade
um sabor de coragem e medo
que de repente volta e se revolta
Sou este cão
neste exato momento
entre a coleira
e o deja'vú
de uma tal liberdade

sou esta exitação
num olhar que se desprende
solto
entre o caminho e a paisagem

Sou doméstico e sou selvagem

sou amor somado à libertinagem
Dor que se estica em sabedoria
Susto que se converte em alegria
Saudade que desembarca de longa viagem

Sou sonho em plena realidade
e pleno
mesmo em um mundo de crueldade
sou amor consciente
e paixão à beira da loucura
sou o sabor do onipresente
e o som vivo de uma textura

Esquinas
cruzamentos
ladeiras
paralelepípedos
monumentos
muros
tijolos
furos
entulhos
becos
embrulhos
escadas
praças
curvas
estradas
dobrando...

Ando

porque sempre que escrevo

mesmo se apenas descrevo
comunico naquilo que sou
vou incapaz de escapar 

do que estando...

a trajetória da vida
é portanto como uma onda
que é uma energia infinita
e ao mesmo tempo redonda


ADVINHO
















Quase nada não é ilusão 

e em tudo que há verdade
Entrego-me em tamanha atenção 

O que desconheço, é também realidade? 

Do que acredito que sei 
o não saber é minha identidade 
testemunha dos meus pensamentos 
observador de sentimentos 
Estudante do mundo 
um universo dentro de mim... 

Mergulho sorrisos em paisagens 
beijos em geologia e admiração humanas 
e assim, advinho a felicidade 
quando lambe por mim o amor em chamas