≈∞≈

≈∞≈

terça-feira, 22 de agosto de 2017

GRATO


















Já há alguns dias sinto como se estivesse a distribuir afagos por sobre as belezas deste planeta que me habita, como se estivesse a abraçar o mundo no simples ato de observá-lo com aventura e admiração.

A chuva  acariciando a terra, o vento se enroscando de carinhos por entre as folhas das árvores, o rio deslizando ternura por sobre as pedras; e uma libélula parecendo libertar perdão ao pousar justo na mão que segurava a caneta tão logo comecei a escrever aqui esse inesperado devaneio, e ainda agora ela jaz serenamente, se deixando conduzir pela dança de minha escrita, completamente paralisada em total entrega. Foi como se sua presença estática capturasse a magia que percorria-me, confirmando a simbiose universal de meu momento de contemplação. E por vezes ela vibrava as asas e eu sentia eternizar-se em meu âmago aquele instante inefável qual eu tentava traduzir em palavras...

Acolhi o momento, os cheiros, os sons ao redor misturados aos batimentos do meu coração. Eu mal conseguia me mover, apenas observava como se meus olhos enxergassem toda a cena pelo lado de fora da janela. E então em pensamento novas palavras iam eclodindo espontâneas, e logo prossegui preenchendo as linhas vazias numa cadência de absoluta naturalidade.

Que faz o meu olhar além de inventar belezas nas paisagens sobre as quais passeia? E que fazem as paisagens se não a reinventarem-se belas, pois, minuto após minuto?

A valsa dos vaga-lumes à preencher a escuridão da noite fazia as estrelas parecerem ainda mais vivas enquanto eu ia absorvendo seus mistérios com um sorriso inescapável desabrochando ao canto de meus lábios.

E que sentimentos mais poderia eu inventar para me adornar com o frio ameno que descia trazendo a umidade perfumada das florestas ao redor? Decidi permitir que meus pensamentos então desabassem inconstantes como pétalas que se desgarram de uma rosa desabrochada em seu apogeu.

Até mesmo respirar a mistura dos perfumes da madrugada fazia confirmar a paz do silêncio em minha calma. Apreciava a sutileza de minhas emoções desnudas, como se mesmo ali no miolo da serra, naquele vale cercado de montanhas, eu recebesse acolhimento ao ser envolto num abraço reconfortante do oceano pacífico.   

E nem mesmo a saudade me doía. Viver me vestia confortavelmente. Respirar era como misturar minhas águas doces no encontro com a foz do mar aberto à que sempre havia me destinado

Nem precisaria, pois, sonhar. Apenas estar já me transbordava...





Nenhum comentário:

Postar um comentário