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quinta-feira, 14 de julho de 2016
CÁRCERE ETIQUETADO
Só uma porta emperrada
ou uma mola enferrujada...
Sou rachaduras numa calçada
da história jamais mencionada...
Tantas metáforas tão insignificantes
brilham mais que o olhar da madame
na cegueira da sede por diamantes
Sonhando com as cachoeiras purificantes
vou sufocando-me numa areia movediça
já há tempos nessa luta isenta de cobiça
De meu peito soam sussurros agonizantes
meus gritos por socorro sempre abafados
sentimentos surdos e mudos e enjaulados
Encurralado nesse enorme poço de lama,
meu sentir derrete, se espalha e derrama
só a boca e os olhos ainda resistem, escotilha
todo meu restante é engolido nessa armadilha
Tento não tentar mais me mover,
como última forma de sobreviver
à tal agonia, sufoco não metafórico não brilha
é arma sensível, que sonsa, se auto-engatilha
Tento ficar bem quietinho, mesmo engasgado
nem posso tossir pois tudo me dói, dilacerado
tudo que sou se condensa, esmagado
um abacaxi sem coroa, já descascado
Insignificante, sou só um mero inseto
preso à sola de um sapato, meu teto
desgarrado carrapato em um deserto
o horizonte é miragem, puro e incerto
Tudo me é drama e sem trama
lençóis me algemando à cama
Entre o oceano e o céu sou apertado
nem lembro mais quando fui pescado
sou esse peixe se debatendo
e me rendo, não sei mais se ainda nado
agora apenas me compreendo
prateleira de um supermercado
industrial: sou, só, mais um
enfileirado...
tal mero atum
enlatado...
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