≈∞≈

≈∞≈

terça-feira, 3 de maio de 2016

O RISCO DE UMA ESTRELA CADENTE - [parte 1]





Sei que tinha meros três anos de idade:
um piscar de olhos, e uma nova cidade
um outro idioma, uma estranha família
estranhos aromas, casa, cama e mobília

Fui mergulhando nessa outra sociedade;
inescapável, reinventei minha identidade
enquanto girava num furacão emocional
todo cheio de infinitos e eteceteras e tal...

Escorreguei me derretendo em avalanches
labirintos sem paredes, tantos desmanches.
E fui engolido por um gigantesco tornado
e encolhido entre meus silêncios lagrimais
não compreendia aquele peito consternado
em minhas tempestuosas crises existenciais...

O novo não assusta quando tudo é pura novidade
mas o estorvo foi crescer no convívio da saudade
Renasci, tendo que reaprender tudo: ouvir, falar
dormir, brincar, correr, sonhar; o meu novo amar
Remodelei meu travesseiro até sentir me aninhar
Demorei até me adaptar, mas aceitei um novo lar

Fazer amigos novos era sempre a maior facilidade
vizinhos, escola, rua: me encontrei nessa felicidade
mesmo que acompanhado de uma tal clandestinidade
secretamente eu me fortalecia nos tijolos da amizade

Mesmo tentando evitar, era visto como o diferente
e onde quer que eu fosse, sentia tudo intensamente
e no tentar parecer normal, me revelava o irreverente
nada conseguia esconder: meu coração é transparente

Me acostumei ao destaque, ao ataque, ao atabaque
e as perdas pra mim não me causavam tanto baque
eu desconhecia o luto, o soluço escondia o sotaque
subia em árvores, fazia pipa e no surf eu era craque

Algo veio junto em minha pele, tipo que antiaderente
passeava por todos grupos, mas me sentia incoerente
E como um risco no céu, brilho duma estrela cadente
só encontrei paz no papel, e me reconheci adolescente ...




























Nenhum comentário:

Postar um comentário